O Centro de Operações e Resiliência da Prefeitura do Rio (COR-Rio) recebeu nesta quinta-feira (18/9) representantes do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), dos Estados Unidos, que apresentaram os primeiros resultados do Senseable City Rio, laboratório criado a partir de uma parceria com a Prefeitura do Rio. A cidade é a única da América Latina a integrar essa rede global de inovação urbana, que já tem braços em Amsterdã e Dubai.
O projeto foi desenvolvido por meio da Secretaria Municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação, e conta com a colaboração de instituições como UFRJ, Instituto Pereira Passos, Instituto Igarapé, além de empresas privadas. O foco está nas comunidades cariocas e sua capacidade de adaptação frente a desafios como deslizamentos de terra, calor extremo e poluição.
Inspirado no projeto Favelas 4D, idealizado com o arquiteto Washington Fajardo, o Senseable City Rio busca aliar ciência de ponta a um forte componente de participação comunitária, com o objetivo de posicionar a cidade como referência global em inovação urbana em contextos informais.
LiDAR no Vidigal e dados expostos na Bienal de Veneza
A primeira ação da equipe, formada por dez pessoas (um norte-americano, um francês, um italiano, um nigeriano, dois chineses e quatro brasileiros), ocorreu no Vidigal, na zona sul da cidade, onde foi realizado um escaneamento tridimensional da comunidade com tecnologia LiDAR (Light Detection and Ranging). A ferramenta emite pulsos de laser que permitem mapear com alta precisão estruturas físicas, gerando modelos complexos de “nuvens de pontos” que identificam, por exemplo, construções, número de andares e áreas de risco.
Diferente das câmeras, o LiDAR não capta imagens pessoais, o que garante privacidade total. O sistema opera melhor durante o dia e em clima seco, mas pode ser adaptado a outras condições. O resultado desse levantamento foi tão significativo que ganhou destaque na Bienal de Arquitetura de Veneza deste ano.
Próxima etapa: Maré e sensores 3D com impressão digital
A próxima fase do projeto será realizada no Complexo da Maré, na zona norte. Em parceria com a organização Redes da Maré, um workshop está previsto para outubro, com apoio da Firjan, para a criação de sensores tridimensionais impressos em 3D. Os dispositivos — apelidados de “polvos” — irão monitorar temperatura, qualidade do ar e outros indicadores ambientais, essenciais para enfrentar ondas de calor e problemas respiratórios.
Os moradores da Maré serão capacitados para atuar na coleta de dados e na montagem dos equipamentos. O modelo prevê a contratação temporária de residentes, com remuneração ainda em definição. O projeto já foi apresentado ao Comitê de Calor do COR e será integrado aos protocolos da prefeitura para eventos climáticos extremos.
O italiano Carlo Ratti é o coordenador dos laboratórios do MIT e falou sobre o trabalho no Rio:
– Já realizamos testes iniciais, e o que diferencia estes projetos são seu DNA colaborativo. Em sua essência, trata-se de uma parceria com as comunidades. O envolvimento dos moradores é essencial. No MIT, acreditamos que mudanças significativas nas cidades sempre começam ouvindo aqueles que vivem nelas, com grande humildade. Isso é particularmente verdadeiro nos assentamentos informais, que têm muito a nos ensinar.
– Queremos produzir ciência com quem vive a cidade, diz Tatiana Roque
A secretária municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação destaca que o Rio está na vanguarda da inovação urbana com um modelo único de colaboração:
– A tecnologia do MIT chega ao Rio para se somar ao saber local das nossas comunidades. Não queremos fazer ciência sobre elas, mas com elas. É um projeto que une pesquisa e cidadania, preparando o Rio para os desafios do futuro com inteligência e participação popular.